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25 de janeiro de 2024

Relatório anual de gestão: como elaborar o conteúdo?

Tão importante quanto o planejamento estratégico empresarial, o relatório anual de gestão (RAG) é fundamental para avaliar se a organização está gerando resultados esperados e de que maneira. Nele, estão presentes dados financeiros e contábeis essenciais, além de informações que detalham fatos e dados relacionados à atuação da empresa no decorrer do ano.

Também chamado de relatório de análise gerencial ou relatório da administração, esse documento pode ser elaborado para cumprir exigências legais ou para atender objetivos específicos da empresa, como atrair investimentos. Independentemente do propósito, a forma como o conteúdo vai ser estruturado e apresentado é a chave para elaborar um bom relatório de gestão.

Neste artigo, explicamos em detalhes os aspectos fundamentais desse documento e como as informações podem ser apresentadas de forma mais atrativa. Confira, também, 10 dicas práticas de conteúdo para elaborar um relatório anual de gestão de alto impacto. Confira!      

O que é o relatório anual de gestão?

O relatório anual de gestão é um documento que apresenta e sintetiza a atuação de uma empresa durante o ano. Ele reúne uma série de informações, como indicadores financeiros, dados operacionais, ações estratégicas e práticas de responsabilidade social, entre outros pontos.

Na prática, é uma forma de comunicar ao mercado a trajetória da empresa naquele ano, destacando suas conquistas, desafios enfrentados e os caminhos traçados para o futuro. Mas o papel estratégico desse documento é maior do que isso, pois ele pode ser o caminho para atrair investidores e parceiros de negócios, para obter melhores condições junto às instituições financeiras, para construir ou fortalecer a reputação da empresa, entre outros objetivos.

Podemos dizer que o relatório anual de gestão transmite a essência da organização, incorporando elementos como missão, visão e valores. Ao alinhar os resultados apresentados com os objetivos estratégicos da empresa, o documento passa a ser um instrumento valioso para comunicar não apenas o “o que” e o “quanto”, mas também o “porquê” e o “como”.

Afinal, por que é importante que as empresas produzam o relatório anual de gestão? Há uma série de finalidades que o documento cumpre. Confira as principais!

Transparência e prestação de contas

O relatório anual de gestão é um mecanismo indispensável para a transparência empresarial. Ao apresentar de forma clara e acessível os resultados financeiros, operacionais e sociais, a empresa demonstra seu compromisso com a prestação de contas aos diversos stakeholders, incluindo acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores e comunidade.

Comunicação efetiva

A comunicação corporativa não se resume apenas a números e gráficos. O RAG pode servir para construir narrativas que estejam conectadas com o público que terá acesso às informações. Embora o documento esteja bastante focado no mercado corporativo e na relação com investidores, há outros atores cada vez mais interessados nessas informações, como colaboradores e até mesmo clientes.

Os próprios investidores e parceiros de negócios demandam mais dados e contextos — elementos valiosos na tomada de decisão. Ao considerar todos os públicos envolvidos e seus objetivos, o relatório se converte em um importante instrumento de comunicação da empresa.

Orientação estratégica

Embora seja um registro das ações e resultados da empresa no decorrer do ano, o relatório de gestão também cumpre o papel de direcionar a organização para o futuro. Ao apresentar metas, estratégias e perspectivas para o próximo período, o documento traça a visão clara do rumo que será perseguido. Esse é um aspecto importante para alinhar expectativas com os públicos de interesse, como investidores, parceiros de negócios e colaboradores.

Construção da reputação

O relatório de gestão contribui para a construção da reputação empresarial. No documento, há uma série de elementos (além dos resultados) que ajudam a criar uma percepção positiva no mercado. A forma como a empresa enfrenta desafios, o compromisso com a responsabilidade socioambiental e a transparência da comunicação são características que aparecem no RAG e que transmitem credibilidade.

Atendimento das demandas de mercado

A elaboração do RAG, muitas vezes, é um requisito para algumas organizações. É o caso, por exemplo, das empresas de capital aberto, que seguem determinações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e precisam apresentar periodicamente dados econômico-financeiros, incluindo demonstrações financeiras e relatórios de análise gerencial.

Mesmo para organizações que não têm a obrigação de produzir e divulgar o relatório anual de gestão, esse cuidado pode ser necessário para atender demandas crescentes do mercado e da sociedade. O documento serve para evidenciar políticas e boas práticas, atendendo não apenas a requisitos regulatórios, mas também às expectativas dos consumidores, de investidores que a empresa queira atrair, de instituições financeiras ou outros parceiros.

O que deve conter o relatório anual de gestão?

A estrutura do relatório anual de gestão pode mudar em função do perfil e dos objetivos da empresa. Nesse sentido, é possível incluir seções adicionais ou personalizar a ordem das seções de acordo com suas necessidades e exigências regulatórias. O objetivo é fornecer uma visão completa e transparente do desempenho e da situação da empresa durante o ano.

De forma geral, a estrutura padrão de um relatório de gestão compreende introdução, contextualização, apresentação do desempenho financeiro e operacional, ações ou programas estratégicos, iniciativas de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, perspectivas futuras e conclusão. Veja como essas informações podem ser estruturadas no relatório anual de gestão.

  • Capa: é uma página de forte apelo visual que apresenta o relatório anual de gestão, incluindo o nome da empresa, o período abordado e o ano de publicação.
  • Sumário executivo: também conhecida como “resumo executivo” ou “mensagem da administração”, essa é uma seção introdutória que traz uma visão geral do desempenho da empresa durante o ano, destacando conquistas, desafios e perspectivas para o futuro.
  • Perfil da empresa: reúne as informações básicas sobre a empresa, como histórico, missão, visão, valores e estrutura organizacional.
  • Ambiente externo: é uma análise do contexto externo que impactou a empresa, incluindo fatores econômicos, políticos, sociais, tecnológicos e regulatórios.
  • Estratégia empresarial: descreve a estratégia adotada pela empresa, suas metas e objetivos, bem como as principais iniciativas implementadas durante o ano.
  • Desempenho financeiro: detalha os indicadores financeiros, como demonstrações financeiras, receitas, despesas, lucros e prejuízos. Inclui também análises de tendências e variações.
  • Desempenho operacional: apresenta dados operacionais, como produção, vendas, eficiência operacional e outros indicadores relacionados às principais atividades da empresa.
  • Responsabilidade socioambiental (ESG): detalha as práticas e iniciativas relacionadas à responsabilidade social e ambiental, alinhadas aos princípios ESG.
  • Governança corporativa: explora a estrutura de governança da empresa, destacando o conselho de administração, comitês, políticas e práticas relacionadas à governança.
  • Riscos e oportunidades: identifica e analisa os principais riscos enfrentados pela empresa, bem como as oportunidades que podem impactar seu desempenho no futuro.
  • Perspectivas futuras e metas: apresenta as metas da empresa para o próximo período e discute as perspectivas para o futuro, alinhadas à estratégia de longo prazo.
  • Demonstração do Valor Adicionado (DVA): é uma informação contábil relevante que destaca a riqueza (valor adicionado) gerada e distribuída pela empresa.
  • Demonstrações financeiras e notas explicativas: inclui as demonstrações financeiras auditadas, acompanhadas de notas explicativas que fornecem detalhes adicionais sobre os números apresentados.
  • Relatório dos auditores independentes: apresenta a opinião dos auditores independentes sobre a veracidade e conformidade das demonstrações financeiras.
  • Anexos: podem conter informações adicionais, como gráficos, tabelas, relatórios setoriais, entre outros dados relevantes.

À primeira vista, essa estrutura de documento pode parecer excessivamente burocrática. Essa impressão decorre do fato de que, inevitavelmente, o relatório de gestão vai trazer dados financeiros, contábeis e operacionais. Porém, isso não quer dizer que o conteúdo deve ficar limitado aos números e às expressões técnicas.

O cuidado em fazer com que as informações sejam acessíveis a todos os públicos é fundamental. Ao longo do relatório, texto, imagem, destaques, infográficos e demonstrações financeiras ou contábeis precisam se complementar para oferecer uma excelente experiência de leitura.

Sempre é importante lembrar que resultados não surgem do nada; eles são fruto de estratégias, projetos e ações planejadas e executadas por pessoas. Será que o relatório anual de gestão consegue dar a dimensão desses esforços? Esse é um desafio que só pode ser superado com conteúdo de qualidade, que, certamente, conseguirá refletir melhor a cultura da organização.

Pensando nisso, separamos algumas dicas que podem aumentar a relevância do relatório de gestão. Confira!

10 estratégias de conteúdo para o relatório anual de gestão

Há uma série de detalhes que fazem toda a diferença na construção de um relatório anual de gestão. O documento pode ir além do mero cumprimento de obrigações e servir como uma ferramenta de conexão e engajamento com o público. Quer ver só? Então confira agora algumas dicas estratégicas para o conteúdo do RAG.

1. Estruture as informações com clareza

Organize o relatório de forma lógica e clara, com seções distintas para facilitar a leitura. A estrutura segmentada e dividida do documento permite que o leitor identifique rapidamente as informações que está buscando, já no primeiro contato com o material.

A distribuição coesa do conteúdo tem outro propósito fundamental: estimular seus stakeholders a conferirem cada seção, ainda que pontualmente. Ao oferecer uma estrutura organizada, o relatório se torna um recurso eficiente para diferentes perfis de leitores, desde os que desejam uma visão global até aqueles interessados em detalhes específicos.   

2. Humanize o relatório com histórias

Integre narrativas e histórias envolventes para tornar o relatório mais acessível. Use casos de sucesso, desafios superados e experiências inspiradoras para humanizar o conteúdo. As estratégias de storytelling ajudam a criar conexões, trazendo para o documento diferentes visões sobre a jornada da empresa.

As narrativas não precisam ser grandiosas; podem ser histórias do dia a dia da organização, mas que retratem a dedicação dos colaboradores, as superações frente a desafios e os momentos que moldaram a cultura organizacional. Ao incorporar elementos humanos, o relatório estabelece sinergia com os valores e a identidade da empresa.

3. Invista em gráficos e infográficos

Utilize gráficos e infográficos para transformar dados complexos em informações visuais de fácil compreensão. Essa abordagem ajuda a transmitir mensagens-chave de maneira eficaz, cativando a atenção do leitor.

Os elementos visuais ilustram os resultados e também destacam tendências e padrões, proporcionando uma visão rápida e intuitiva do desempenho da empresa. Para stakeholders, esse um recurso fundamental para localizar, rapidamente, dados importantes.

Dedicar tempo e atenção para desenvolver uma estratégia visual atrativa é essencial. Isso engloba tanto a elaboração dos infográficos, destaques e ícones que apresentam informações relevantes, quanto o design do relatório como um todo. O trabalho da arte, nesse processo, fortalece o interesse dos leitores no documento.

4. Enfatize e contextualize resultados

Destaque os principais resultados alcançados durante o período, seja em termos financeiros, de mercado ou de impacto social. Os stakeholders valorizam números tangíveis que demonstram o desempenho positivo da empresa. Além de apresentar essas informações de forma clara, é necessário contextualizá-las, explicando como esses dados contribuem para os objetivos estratégicos da organização.

Ao elaborar o relatório anual de gestão, lembre-se de que o desempenho está sempre atrelado a um planejamento estratégico formulado de acordo com a missão, visão e valores da organização. No decorrer do ano, uma série de fatores pode ter influenciado tanto as decisões da administração quanto o desempenho da empresa. Pontue essas questões. Esse cuidado vai mostrar para o leitor como os resultados foram alcançados ou o que comprometeu o atingimento de metas que não foram atingidas.

5. Aborde ESG, responsabilidade empresarial e sustentabilidade

Dedique uma seção às práticas e iniciativas que demonstrem o compromisso da empresa com a sustentabilidade. As políticas ESG (relacionadas às esferas ambiental, social e de governança), por exemplo, são demandadas tanto pelo mercado quanto pelos consumidores e colaboradores.

De acordo com o Índice do Setor de Sustentabilidade 2023 da Kantar, mais de 50% dos consumidores deixam de comprar produtos de marcas que não investem em sustentabilidade ou que têm condutas consideradas prejudiciais para o meio ambiente e a sociedade. Esse dado demonstra a importância do tema, que não deve ser negligenciado no RAG.

Mesmo que a organização tenha poucas ações sustentáveis para a apresentar no relatório ou que ainda não tenham gerado resultados relevantes, vale a pena destacar seu posicionamento. O conteúdo pode ser trabalhado com cuidado para transmitir as metas, políticas e iniciativas que estão em implantação, demonstrando como elas vão funcionar e qual impacto podem provocar no longo prazo.

6. Evidencie feedbacks e reconhecimentos

Incluir feedback de clientes, colaboradores e parceiros no relatório de gestão é uma excelente forma de validar a reputação da empresa. Depoimentos complementam as informações objetivas que estão sendo apresentadas, muitas vezes, ajudando a contextualizar os resultados.

Imagine que uma das grandes ações da empresa naquele ano tenha sido inaugurar uma grande filial em outro Estado. Além dos números impactantes que certamente decorrem desse fato, como valor do investimento, área construída e empregos gerados, é interessante trazer declarações que demonstrem que o impacto do investimento é mais amplo — por exemplo, na vida dos novos colaboradores ou dos moradores da região.

Reconhecimentos oficiais e prêmios conquistados ao longo do ano também merecem destaque no relatório. As distinções revelam a excelência da empresa e fortalecem sua posição como referência no mercado.

7. Apresente perspectivas para o próximo período

Compartilhe as metas futuras da empresa e as estratégias para alcançá-las. Isso proporciona aos leitores uma visão do direcionamento da organização, demonstrando um planejamento sólido e uma visão de longo prazo.

Destacar as perspectivas para o próximo período é uma forma de envolver os stakeholders no processo de construção do futuro da empresa. Ao fornecer insights sobre os objetivos estratégicos, a empresa demonstra transparência e confiança em suas metas, fortalecendo o compromisso de criar valor consistentemente.

8. Use recursos digitais e interativos

A interatividade digital é uma ferramenta poderosa para incorporar no documento. Um relatório interativo incorpora funcionalidades como links, vídeos e recursos de navegação. Isso oferece uma experiência mais prática e acessível, especialmente para leitores online.

O formato digital e interativo permite que os stakeholders tenham flexibilidade para acessar o conteúdo de maneira personalizada. Dessa forma, é possível navegar com facilidade entre diferentes seções do documento ou, ainda, obter detalhamentos específicos a partir de ícones clicáveis. As possibilidades são inúmeras e, por meio delas, é possível transformar um documento estático em uma plataforma dinâmica.

9. Dê voz às pessoas

O planejamento estratégico e os resultados alcançados ao longo do ano são reflexos diretos do envolvimento das pessoas com os objetivos traçados. Nada mais justo do que dar destaque a elas. Depoimentos, artigos e textos de apresentação (como a introdução) são espaços adequados para trazer esse tipo de conteúdo.

É comum nos relatórios de gestão que um ou mais representantes da alta direção apresentem suas impressões sobre as informações que serão apresentadas. No entanto, é possível trazer breves comentários de outras lideranças ou de especialistas em momentos pontuais do documento, como na apresentação de um projeto específico ou do ambiente macroeconômico, entre outros temas.

10. Faça um bom resumo (ou sumário) executivo

O resumo ou sumário executivo destaca os pontos fundamentais do relatório de gestão. Nessa seção, é importante se concentrar nos aspectos mais impactantes, de forma sintetizada e objetiva. Isso beneficia aquela pessoa que busca uma informação rápida e concisa sobre o desempenho da empresa no ano.

No entanto, vale a pena destacar que essa é uma seção estratégica para atrair a atenção do leitor. Procure criar a conexão com o público trazendo mensagens relevantes da alta administração e dos principais representantes da empresa. Elaborar com atenção e estratégia o conteúdo que será entregue no sumário executivo pode fazer toda a diferença na percepção de valor do relatório.

A ideia é que o relatório anual de gestão, mesmo quando produzido para cumprir uma exigência legal, seja elaborado de forma estratégica. Ou seja, é essencial planejar o conteúdo com atenção a detalhes como interatividade, humanização e contextualização. Isso faz toda a diferença na experiência de leitura.

Gostou das nossas dicas de conteúdo para o relatório anual de gestão? Elas são baseadas na experiência que desenvolvemos produzindo materiais relevantes para grandes empresas. Podemos te apoiar nesse processo!