A diversidade e inclusão nas organizações são pilares essenciais para um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Contudo, um aspecto frequentemente negligenciado nessa discussão é o etarismo nas empresas, uma forma de discriminação baseada na idade. Diante do envelhecimento da população, essa é uma questão inadiável no contexto corporativo.
A visão de que, por conta da idade, uma pessoa tem ou não capacidade de realizar determinadas atividades se manifesta em diferentes ambientes sociais, das relações familiares ao mercado de trabalho. Além disso, pode afetar adolescentes e jovens, mas atinge, principalmente, pessoas mais velhas ou idosas. Na prática, é uma conduta que provoca danos, desvantagens e injustiças para as vítimas.
Para as empresas, a ocorrência do etarismo pode prejudicar o clima organizacional, desencadear conflitos geracionais e comprometer a produtividade. Por outro lado, ao combater o problema, o ambiente de trabalho passa a ser um espaço rico de convivência, respeito e de trocas altamente promissoras, tanto para os profissionais quanto para a organização.
O que é o etarismo?
O etarismo, idadismo ou ageísmo (do termo em inglês ageism, cunhado pelo médico norte-americano e pioneiro no estudo do envelhecimento, Robert N. Butler), é um conceito que se refere à discriminação das pessoas por causa da idade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os principais aspectos do etarismo são:
- a associação de estereótipos ou a visão generalizada sobre a capacidade física ou mental de uma pessoa com base na sua idade;
- o preconceito ou o sentimento em relação a uma pessoa também em função do grupo etário ao qual ela pertence;
- a discriminação, que se traduz em ações, práticas ou comportamentos dirigidos a alguém com base na percepção da sua faixa etária.
Embora o etarismo possa ocorrer em diferentes faixas etárias, ele se manifesta de forma mais significativa contra pessoas idosas. No Brasil, é considerada idosa a pessoa com 60 anos ou mais, sendo crime a discriminação contra ela. Para além do aspecto legal, porém, há a questão moral de impedir que a pessoa mais velha desfrute das mesmas oportunidades que outra mais jovem simplesmente pela idade que ela tem.
Saiba mais: baixe o “Manual Antietarismo: Um guia para as empresas no caminho da diversidade“
Etarismo nas empresas: como ele se manifesta
O aumento da longevidade e da qualidade de vida tem promovido o fenômeno mundial do envelhecimento populacional, caracterizado pela redução no número de jovens e crescimento nas faixas etárias mais elevadas. Consequentemente, a mão de obra das empresas também passa a ser mais velha.
Diante desse contexto, é imprescindível que as empresas olhem para a questão do etarismo, que pode se dar em forma de violência física, verbal ou psicológica. O mais comum, entretanto, é que, por estar tão impregnado na nossa sociedade, o mal se manifeste de forma bastante sutil, podendo passar despercebido até mesmo pelas pessoas que o sofrem.
Há bons exemplos que ilustram como o etarismo se manifesta nas empresas. Veja algumas situações comuns que estão carregadas de estereótipos.
- Presumir que a pessoa mais velha é menos produtiva que outra mais jovem e, assim, deixar de permitir sua participação em processos seletivos, que devem ser justos e igualitários. Por outro lado, não dar oportunidade à pessoa mais jovem em início de carreira por sua falta de experiência também configura uma prática de discriminação etária.
- Assumir que a pessoa idosa é menos atualizada e disposta a aprender que uma pessoa mais jovem.
- Criar barreiras para a contratação de pessoas mais velhas.
- Deixar de promover pessoas mais velhas em função da idade, mesmo que elas tenham experiências e habilidades necessárias para o cargo.
- Impedir que pessoas mais velhas participem de treinamentos, limitando suas oportunidades de atualização e desenvolvimento.
- Dificultar que pessoas mais velhas possam ocupar cargos de liderança.
- Demitir pessoas mais velhas ou obrigá-las a se aposentar quando atingem uma certa idade.
- Pagar salários menores a pessoas mais velhas, ainda que tenham o mesmo desempenho de outras mais jovens.
- Negar emprego ou trabalho a alguém por motivo de idade (crime previsto na Lei nº 10.741, no art. 100 , inc. II, do Estatuto da Pessoa Idosa).
- Desconsiderar as opiniões da pessoa mais velha, contribuindo para a sua invisibilidade.
- Considerar que os mais velhos são ultrapassados, lentos, que não estão familiarizados com as novas tecnologias ou não conseguem acompanhar as mudanças no trabalho.
- Tolerar violências e situações de preconceito e discriminação contra pessoas mais velhas em razão da sua idade.
- Infantilizar a pessoa mais velha — por trás de um suposto cuidado, pode estar a noção de que a pessoa idosa não tem discernimento.
Combater essas situações é essencial para as empresas que desejam alcançar os benefícios de um ambiente diverso e inclusivo. Há muitas estratégias que as empresas podem adotar para combater o etarismo, e de quebra, deixar de perder talentos altamente experientes e contribuir para uma sociedade mais justa.
Na base das estratégias de combate ao etarismo está a adoção de políticas de diversidade e inclusão para atrair e manter os talentos mais velhos, além do esforço coletivo de gestores e colegas de trabalho para entender que a diversidade geracional produz uma soma de conhecimentos e enriquece o ambiente.
Consequências do etarismo
O Relatório Mundial sobre o Idadismo, elaborado pela OMS em colaboração com o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais e o Fundo de População das Nações Unidas, revela que o etarismo produz diferentes impactos que não estão limitados apenas às vítimas desse tipo de discriminação. O estudo destaca que os prejuízos podem ser notados nas áreas da saúde, do bem-estar social e até mesmo na economia.
Saúde
- Doenças físicas
- Redução da longevidade
- Comportamentos de risco para a saúde
- Doenças sexualmente transmissíveis
- Uso inadequado de medicamentos
- Transtornos mentais
- Deterioração cognitiva
Bem-estar social
- Isolamento social e solidão
- Sexualidade restringida
- Temor da criminalidade
- Violência e abuso
Economia
- Pobreza e insegurança econômica
- Carga econômica para a sociedade
Benefícios de um ambiente de trabalho sem etarismo
Uma força de trabalho diversa e inclusiva, com diferentes perfis, conhecimentos e visões de mundo, impulsiona a criatividade. Ou seja, a diversidade estimula novas ideias, produtos e serviços, e isso se traduz em verdadeira vantagem competitiva para as empresas.
Além de ser um movimento socialmente responsável, a integração de profissionais mais velhos é altamente positiva para as organizações. Contratar e reter esses profissionais traz uma série de benefícios. Conheça alguns deles.
- Ambiente de trabalho enriquecido: a presença de profissionais mais velhos cria um espaço de trabalho rico em diversidade, em que as experiências profissionais e as diferentes perspectivas de vida são valorizadas. Esse contexto também fomenta uma abordagem mais eficaz em situações que exigem maturidade e estabilidade, favorecendo a gestão e a resolução de problemas.
- Fortalecimento da marca empregadora: empresas que incluem ativamente profissionais mais velhos em seus quadros fortalecem sua marca empregadora (Employer Branding). Ao assumirem essa responsabilidade social, demonstram estar alinhadas com as demandas contemporâneas por inclusão e diversidade, o que melhora sua imagem e reputação.
- Experiência e expertise: profissionais mais velhos trazem uma riqueza de conhecimentos e experiências de mercado acumuladas ao longo de suas carreiras. Essa expertise pode ser crucial para desenvolver soluções inovadoras e eficazes para desafios de negócios.
- Comprometimento e mentoria: além de seu comprometimento e equilíbrio emocional, profissionais mais velhos possuem uma notável capacidade de solucionar problemas. Eles também podem desempenhar um papel valioso de mentoria, compartilhando conhecimentos e experiências com colegas mais jovens.
- Organização e cooperação: profissionais mais velhos tendem a apresentar qualidades como organização, cooperação, pontualidade e lealdade aos valores da empresa, contribuindo para uma cultura de trabalho harmoniosa e produtiva.
Estratégias para combater o etarismo no trabalho
A adoção de uma política de diversidade que dê importância à contratação e retenção de talentos mais velhos é o primeiro passo para a organização enfrentar o etarismo. Por outro lado, se não houver um foco também na inclusão desses profissionais, os esforços poderão ser em vão.
No combate ao etarismo, diversidade e inclusão são conceitos que andam de mãos dadas. Nenhum dos dois é suficiente sem o outro. Ter uma política de integração geracional mostra que a empresa abraça a causa. A inclusão, porém, se dá na prática. Nesse sentido, há uma série de estratégias que podem ser trabalhadas. Veja alguns exemplos.
- Fortalecimento da cultura organizacional: para que a cultura da empresa represente, na prática, o compromisso com o tema, é importante que a ela destaque em seus valores e normas os comportamentos esperados dos colaboradores em relação ao convívio intergeracional.
- Campanhas de comunicação e treinamentos: é necessário promover a sensibilização de lideranças e colaboradores em relação ao tema, e as campanhas de comunicação são fundamentais para trabalhar o tema com diferentes abordagens e perspectivas.
- Qualificação: investir no desenvolvimento das pessoas mais velhas por meio de treinamentos, cursos e outros métodos de aprendizagem, é uma forma de mostrar sua importância e pertencimento, além de mantê-las atualizadas.
- Análise: identificar as faixas etárias da força de trabalho e como elas estão distribuídas na organização (porcentagem de pessoas mais velhas em cargos de liderança, por exemplo) é essencial para que a empresa verifique se está promovendo a diversidade em todos os níveis hierárquicos.
- Acesso às oportunidades: oferecer às pessoas mais velhas as mesmas oportunidades de promoção de pessoas mais jovens.
- Contratação: na atração e contratação de colaboradores, é válido que a empresa estabeleça metas de recrutamento de pessoas mais velhas.
- Métricas: outra estratégia importante é estabelecer indicadores-chave de desempenho (KPIs) relacionados ao recrutamento e à representatividade de pessoas mais velhas no quadro da empresa.
- Mentoria: devido à experiência e expertise, é interessante que a empresa crie programas de mentorias de profissionais mais velhos para mais jovens.
- Tomada de decisão: estimular a participação de pessoas mais velhas nos processos decisórios e desafios da empresa é uma forma de valorizar a experiência e fortalecer a integração dessas pessoas na definição de rumos da organização.
- Participação: encorajar que pessoas mais velhas possam expressar suas ideias livremente em todos os espaços da empresa, sem medo de serem ignoradas ou subestimadas.
- Combater a discriminação: além de ter uma comunicação alinhada às práticas de diversidade e inclusão, é recomendável criar um canal de denúncias para questões envolvendo preconceito e discriminação contra pessoas mais velhas na empresa.
Comunicação antietarismo: como colocar em prática
A comunicação tem papel fundamental no combate ao etarismo nas empresas, uma questão que afeta todas as áreas da organização. Ao levar conhecimento e informações acerca do etarismo a todos os colaboradores, gestores ou não, departamentos como Recursos Humanos e Comunicação Interna ajudam a promover a conscientização e a mudança de atitudes.
Saber se comunicar com as diferentes gerações, levando em conta suas diferentes características, é um diferencial que aumenta o engajamento dos colaboradores nas empresas. A escolha da temática, das palavras e imagens certas, mostrando as potencialidades das pessoas, ajuda a romper estereótipos negativos associados a cada grupo, além de promover a identificação e a sensibilização do público interno.
A seguir, elencamos algumas abordagens que podem ser adotadas na comunicação das empresas.
- Manuais e guias de boas práticas: criar materiais educativos que esclareçam o que é etarismo, suas consequências e como evitá-lo ajuda a promover a conscientização. Esses recursos podem incluir exemplos práticos, cenários de simulação e diretrizes para comportamentos apropriados no ambiente de trabalho.
- Campanhas de sensibilização: desenvolver campanhas internas periódicas que enfatizem a importância da inclusão de todas as idades. Estas podem incluir pôsteres, newsletters, e vídeos com mensagens antietarismo, destacando a contribuição valiosa de trabalhadores de diferentes faixas etárias.
- Treinamentos e workshops: organizar sessões de treinamento e workshops interativos que permitam aos funcionários explorar e discutir questões relacionadas ao etarismo. Essas sessões podem ser conduzidas por especialistas em diversidade e inclusão ou por membros seniores da equipe.
- Rede social corporativa: utilizar a plataforma de rede social corporativa para promover uma cultura antietarismo. Isso pode incluir a criação de grupos de discussão, compartilhamento de histórias e experiências e a promoção de eventos relacionados à diversidade etária.
- Comunicação inclusiva: garantir que todos os materiais de comunicação da empresa, internos e externos, reflitam a diversidade etária. Isso inclui imagens e linguagem usadas em materiais de marketing, recrutamento e outras comunicações corporativas.
- Feedback e canal de denúncias: estabelecer um sistema aberto de feedback, onde os funcionários possam expressar suas preocupações relacionadas ao etarismo. Além disso, oferecer um canal anônimo para relatar incidentes de discriminação etária.
- Histórias e testemunhos: compartilhar histórias de funcionários de diferentes idades, especialmente aquelas que destacam a colaboração intergeracional e o respeito mútuo. Testemunhos pessoais ajudam a desmistificar estereótipos.
- Promoção de eventos e datas comemorativas: aproveitar datas relacionadas aos direitos dos idosos ou à inclusão intergeracional para promover eventos e atividades que reforcem a mensagem antietarismo.
Ao longo deste texto, você pôde compreender como o etarismo pode ocorrer nas empresas, suas consequências e formas de combater esse mal. Também viu que empresas que se abrem para a diversidade e a inclusão em seus quadros são mais criativas, inovadoras e conectadas à visão de futuro.
O combate ao etarismo nas empresas passa por uma comunicação bem planejada e estruturada. Precisa fortalecer a diversidade e a inclusão na sua organização? Nós podemos te ajudar. A Cucas tem 15 anos de mercado e um trabalho consistente em diversidade e inclusão.