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20 de maio de 2015

Cucas Inteligentes: psicóloga social fala sobre o ônus de se tornar chefe

Você sonha com o desafio de tornar-se um gestor? Então, leia a entrevista que fizemos com Angelita Scardua, psicóloga social formada pela USP (Universidade de São Paulo), e analise se está realmente preparado para dar esse passo.
CUCAS – Quais são os ônus de quem assume um cargo de chefia?
ANGELITA – Nem todo mundo está preparado para assumir esse tipo de cargo, tanto por fatores de personalidade como de maturidade emocional. Alguns, com o tempo e com a prática, conseguem desempenhar um bom papel. Mas, para outras pessoas, a posição nunca será confortável. É preciso considerar que cada papel social exige habilidades e competências diferentes. E, quando uma pessoa assume o papel social de líder em uma empresa, isso exige determinadas posturas, atitudes e habilidades. Porém, nem todo mundo tem condições de desenvolver esses novos comportamentos. Por exemplo, uma pessoa muito preocupada com a aprovação dos outros terá dificuldade em se tornar um líder, pois essa função exige que, em muitos momentos, se tome decisões difíceis, que não vão agradar a todos.
C – Quando um profissional se torna gestor, é inevitável que as pessoas percam a espontaneidade com ele?
A – Com o tempo, o distanciamento que os antigos colegas assumem pode amenizar, mas é inevitável que a relação se altere. Em um dia, você e seu par reclamam dos mesmos problemas no trabalho. No outro, você virou gestor daquele seu amigo e sabe de tudo que o incomoda na empresa. Apenas pelo fato de estar acima na hierarquia, a relação muda. Assumindo um cargo de chefia, é comum surgir a inveja dos colegas, pois é mais fácil enxergar o lado bom da história, como o salário mais “gordo” e a autoridade sobre o outros. Mas pouca gente vê que a responsabilidade aumenta, a consequência das decisões toma outra importância, que a dedicação para a empresa também é maior. De qualquer forma, quem vai para um posto de chefia deve saber lidar com esses desafios também.
C- Quando se torna gestor, quase que automaticamente o profissional vira alvo de críticas dos subordinados. Isso precisa ser encarado com naturalidade?
A – Ser criticado faz parte. A pessoa que assume um posto de chefia deve saber que liderar uma equipe é ser alvo de críticas e de altas expectativas.
C – Mesmo em um dia ruim, o gestor precisa motivar a equipe. Como é possível fazer isso?
A – O gestor sente o peso de ser o termômetro da equipe. Um chefe tenso vai desenvolver uma equipe com um clima negativo. Outro, mais tranquilo e paciente, conseguirá gerar ambientes mais equilibrados. No entanto, o líder não é uma máquina, que controla suas emoções. Ele também pode estabelecer uma relação franca com seus liderados, colocando-se como uma pessoa que também faz parte da equipe e que aprende com ela. Manter uma distância muito grande dos subordinados só vai prejudicar, pois vai gerar uma expectativa de que o chefe sempre está no máximo do seu desempenho e equilíbrio emocional. Por outro lado, em uma relação mais humanizada e coletiva, o chefe poderá até contar com o grupo para erguê-lo em um dia ruim.
C – Outro ponto não muito agradável é ter que lidar com brigas, desavenças ou até fofocas na equipe. Como administrar essas questões?
A – Se juntarmos um grupo de seres humanos, em qualquer condição e situação, haverá fofoca e intriga. Isso é inevitável. Mas vale saber que ao construir uma relação franca e transparente, o chefe consegue minimizar as conversas de corredor, pois as pessoas se sentirão mais confortáveis para falarem sobre seus incômodos e anseios. Criar um ambiente de diálogo aberto facilita, com certeza. Quando existe autoritarismo na equipe, a fofoca funciona como uma válvula de escape e um mecanismo de defesa para as pessoas se expressarem sem se sentirem culpadas. O antídoto para a fofoca é o diálogo e a democracia.
C – Geralmente, gestores precisam ser mais desinibidos, pois precisam falar em público. Para os profissionais mais tímidos, isso pode ser uma barreira?
A – Ir para um cargo de gestão é, automaticamente, virar o foco das atenções. O profissional passa a ser um representante da empresa o tempo todo, tanto para os funcionários como para o público externo. Então, se a pessoa é muito tímida e tem dificuldade de falar em público, ela pode buscar ajuda profissional, cursos de oratória e até terapia.